Olá
Já há muito que penso em fazer uma tatuagem.
Hoje decidi o que vou fazer, agora é só esperar pelo Outono e ir lá.
Dia 23 de Agosto vou ao médico e vou-lhe perguntar se há possibilidade de saber o resultado da análise ao meu embrião.
Fiquei a saber, que mesmo só com 8 semanas posso ser informada do sexo do meu bebé. Não sei porquê, mas sinto que ia ter uma menina.
Aqui está a tatugem que vou fazer, só muda o nome.
Beatriz
Tomás
Beijinhos
Sandra
Perder um filho, através de um aborto espontâneo ou retido, ou mesmo já na gravidez avançada, é a maior dor que uma mãe pode sentir, porque houve a interrupção do caminho natural da vida, que é gerar, gestar, parir e criar. A vida não prosseguiu, foi abruptamente interrompida.
Passar pela perda do bebê, em qualquer uma destas fases é passar pela perda de um pedaço de nós. A dor da perda é tão imensa que não pode ser descrita, é uma imensa mistura de sentimentos, que vão da dor física à psicológica, da raiva, do rancor, à dúvida e à culpa.
A dor física acontece quando há a expulsão do bebê, são contrações iguais as do parto, porém sabe-se que o bebê não irá nascer vivo.
A dor psicológica é a que nos anestesia, nos confunde, nos dopa.
A raiva é o sentimento que se tem em relação a tudo e a todos à nossa volta, mas principalmente em relação a si mesma, a este sentimento está associada a culpa: afinal, o que fiz de errado? Eu tinha o poder de evitar o aborto?
A dúvida é causada pela indefinição dos motivos que levaram à perda.
Normalmente estes sentimentos são sentidos todos juntos, causando o marasma de sentimentos.
A forma de lidar com a dor da perda depende de cada mulher, não existem regras, mas todas devem viver o luto. Luto pela morte do filho. Somente vivendo o luto, a mulher consegue atravessar a dor e continuar a viver.
Não adianta não chorar, não falar, não gritar, não desabafar. Porém nem sempre as pessoas que estão a nossa volta sabem como ouvir, o que falar e como aconselhar.
As pessoas, nestes casos, só precisam estar ao lado, se colocar ao lado, se fazer presente, amparar, abraçar; não adianta dar exemplos, fazer colocações simplistas ou religiosas do assunto, porque somente a mulher que perdeu sabe o valor que tinha este filho, e somente ela sabe o tamanho da sua dor.
Perder um filho é perder um pedaço de nós, sobreviver à perda, é o aprendizado que advém de tudo isto.
Olá
Pois é, ainda dizem que há coincidências.
No dia 10 de Junho recebi a notícia melhor do mundo: estava grávida, ia ser mãe.
Mas o Medo era enorme, pelo conhecimento que tenho, que ás vezes nos incomoda, da percepção que tenho do que é na realidade uma gravidez e do que nos pode acontecer.
Desde dia 3 de Julho que a minha vida deu uma volta de 180º.
Fui ao hospital na 4ª de manha, tal como o meu médico me indicou. Quando lá cheguei a esperança de ouvir que algo estava errado no diagnóstico era enorme, não conseguia pensar noutra coisa, apesar de saber que era quase impossivel.
O médico (Dr. Branco) fez-me logo uma eco endovaginal para ver o que se passava e para confirmar a informação que me deram no Hospital de S. João, que teria um "ovo branco" (gravidez anembrionária). Qual não foi o meu espanto qundo olho para o monitor e vejo o meu piolho, o meu bebé. Enchi o peito e soltei uma lágrima de felicidade a pensar que trudo não passava de um engano. Mas logo no minuto seguinte o médico, com a maior sensibilidade do mundo (até porque se apercebeu de que vi o embriao) disse da forma mais cuidadosa que alguém o poderia ter feito, que tinha o meu bébé, mas que infelizmente era uma gravidez não evolutiva. Fiquei sem reacção, a lágrima subitamente parou, o coração ficou apertadinho e só pensei, vou ter que tirar o meu filho, ele está lá, ele está dentro de mim e vão-mo tirar.
Daí a expulsão foram horas infindáveis, fiz 2 dosagens e só à noite comecei com hemorragias, na 5ª de manhã, após a 3ª e última dosagem saiu. Nunca chorei tanto na minha vida como nestes dois dias que pareceram ter 500horas cada um. Mas não saiu tudo, ontem as 24h vieram-me buscar para fazer curetagem. Mais uma etapa, mas uma avalanvhe de sentimentos negativos, de revolta, de dor, de sofrimento que não consigo quantificar nem explicar.
De manhã o meu médico (Dr. Braga) foi me ver e deu-me mais uma óticia, daquelas que por um lado nos conforta mas por outro nos deixa com um medo do tamanho do mundo.
Daqui a mês e meio tenho que lá ir, e fazer novos exames para ver como ficou o meu utero e para verificar se é realmente bicorneo ou septado (já que pode ser septo quase a dividir na totalidade o utero), neste ultimo caso terei que fazer cirurgia, nem daqui a 6 meses volto aos treinos. No caso de ser bicorneo terei que ser acompanhada e nada me garante que conseguirei levar uma gravidez até ao fim.
Mais uma coisa para me deixar angustiada. Mais uma dor para juntar a esta imensa que já tenho.
Desculpem o testamento, mas sinto que falo outra lingua, tenho o apoio de todos mas parece que na realidade ninguém compreende realmente o que sinto. So me dizem "não podes ficar assim", não entendem que neste momento eu preciso de estar assim? sozinha, triste e a chorar?
Sinto-me sozinha no meio de uma multidão de gente.
Sem dúvida que há coisas que vos ouvia dizer e lia que passaram a fazer muito mais sentido, já o faziam, mas agora esta é uma camisola que também visto, não etsou apenas pela causa, estou porque também eu PERDI UM FILHO.
um beijo do tamanho do mundo
Sandra
Já lá vai 2 anos e meio que esta caminhada começou.
Ao longo deste ano passei por muitas experiências novas e adquiri um imenso conhecimento sobre uma área que nunca me teria passado pela cabeça intervir.
O primeiro obstáculo que me surgiu foi: como vou eu trabalhar com estas mulheres? o que posso fazer e como as posso ajudar?
Antes demais tive que ler muito, procurar todas e quaisquer actividades que pudesse transformar e adequar as suas necessidades e problemáticas. Até que iniciei o primeiro grupo de terapia. O meu primeiro grupo de terapia e o primeiro desta associação.
Foi muito difícil fazer com que mulheres dessem a cara, que se expusessem, mas todas as semanas o grupo ia crescendo, umas iam entrando outras iam saindo, até que restaram as guerreiras, e digo guerreiras porque as poucas que ficaram durante um ano seguidinho, que todas as semanas estavam lá são umas lutadoras. Sim, não pensem que é fácil, estarmos 2 horas a trabalhar questões que nos incomodam. Mas afinal é para isso que elas lá estão. Não para esquecer, porque nada se esquece, mas para recordar de forma saudável um momento da vida que as entristece e as bloqueia para seguir em frente com a vida.
Este grupo permaneceu fixo durante um ano, até que uma das meninas engravidou, e por regra estabelecida, teve que ser encaminhada para um grupo de terapia para grávidas.
Mais uma nova etapa para mim. Como vou eu trabalhar com grávidas? Na altura engravidou também uma outra associada que desde logo se mostrou interessada em iniciar terapia. Não pensei duas vezes, tenho que investir nesta nova aprendizagem. E assim fiz. Mais uma vez pesquisei, procurei informação e comecei a trabalhar com elas.
Hoje, cada uma tem o seu bebé nos braços, e sinto-me feliz por de alguma forma ter ajudado estas mulheres a passar uma gravidez menos angustiante e a permitir que vivenciassem com felicidade, dentro do que lhes era possivel, a gestação.
Em paralelo a todo este trabalhao iniciei consultas individuais e de casal, sempre que considerava que a terapia de grupo não era suficiente ou que a associada não pudesse por indisponibilidade da mesma estar presente nos grupos de terapia.
Foi esta a minha base de trabalho, para chegar ao degrau no qual me encontro hoje.
Neste momento a Associação já me permitiu fazer um pouco de tudo: Conferências, dar formação, fazer terapia de grupo e de casal.
Obrigada Associação Projecto-Artémis por me ter permitido crescer quer a nivel profissional, quer a nivel pessoal. Obrigada por confiarem no meu trabalho e por me darem abertura para chegar onde cheguei.
Um bem haja a todas as associadas, à direcção e a todas as pessoas que directa ou indirectamente colaboram connosco.
Afinal não foi mais uma desilusão, foi uma aposta que me sinto orgulhosa de ter feito.
Um bjinho a todas
Sandra